A história Como nasceu a Doce Sentido

Com muitos anos de infância passados numa casa cheia de gente de todas as idades, o bulício das celebrações sempre me fez sorrir. A azáfama da preparação, os aromas oriundos da cozinha a bailar pela casa, a mesa disposta com cuidado e repleta de carinho em cada uma das iguarias que por lá paravam.

Mas acima de tudo, o que sempre captava mais a minha atenção eram os doces. Os doces trazem aquela associação inequívoca a festa, à celebração de algo, à junção de família e amigos e ao sorriso de um momento feliz.

Recordo as tardes em que acompanhava avidamente cada passinho da minha mãe na cozinha, à medida que um doce tomava forma. O melhor dia do ano, a véspera de Natal, que lá em casa tinha mais do que um motivo de festa, tirava-me o sono não pelos presentes, mas pela certeza da felicidade de passar um dia inteiro na cozinha entre ingredientes e aromas doces.

Fazer um doce tornou-se assim um momento de celebração. Pelo mais ínfimo motivo, transcender a junção dos ingredientes e fazer surgir um convite irrecusável a saborear algo doce. Algo sentido cá dentro para além do palato. Algo que nos provoca uma emoção. Ou várias.

imgÉ com esta paixão briosa, de memórias marcantes, que o doce fez sentido e um sentido subitamente se impôs, de longa data adormecido.

A minha paixão pela pastelaria é assim simultaneamente coerente e desprovida de razão, após formação e vida profissional numa área completamente distinta. Mas independentemente das razões que se juntaram a dada altura, tornou-se a minha forma de estar.

O doce tem para mim um encanto especial, presença constante de qualquer celebração que invoca memórias com saudade e cria novas memórias para o futuro. E porque “os olhos também comem”, ao deleite da vista segue-se a satisfação imediata do sabor, muito além do apetite.

Assim, um doce sentido ganhou forma e legitimidade para se fazer sentir, convidando a um dia especial que nos deixe a alma doce.

Cláudia Leal